24.10.06

Gastronomia é patrimônio cultural!

Gastronomia é cultura. E isso não é frase de efeito. É assunto sério que envolve políticas públicas eficientes para tornar a comida – traço mais marcante da identidade de um povo – símbolo nacional e motor do desenvolvimento de um país. Entre os dias 23 e 24, participei do Seminário Internacional sobre Gastronomia Regional, no Senac da Barra da Tijuca (RJ). Representantes de países como Cuba, México, Espanha, Argentina, Portugal e Alemanha estiveram presentes para discutir a alimentação a partir de um produto turístico e cultural.

As participações foram pertinentes, esclarecedoras e estimulantes. Foi produtivo conhecer experiências de outros países que abraçaram a causa e tem desenvolvido ações constantes para preservar esse patrimônio. Um assunto recorrente foi exatamente esse. A gastronomia é um patrimônio cultural e deve ser inserida nesse contexto para que possa provocar mudanças na política, economia, na cultura e sociedade sob diversos aspectos.

No Brasil, o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico Nacional) tem trabalhado em iniciativas para agregar saberes e sabores ao acervo memorial do país. Através de inventários têm-se documentado práticas e receituários e o objetivo e fazer um mapeamento dos sistemas culinários. O feijão e a farinha já fazem parte da lista. Outras ações como o Museu da Gastronomia Baiana também vêm reforçar a necessidade de arregimentar as bases para a valorização desse patrimônio, que é a nossa comida com toda a sua diversidade.

Mas ainda estamos caminhando. Temos pesquisadores se debruçando sobre o tema, eventos esporádicos, entre outras atividades, mas falta uma colher para mexer esse caldeirão e dar liga a essa produção acadêmica, pública e comercial. Falta um ingrediente que foi citado por vários dos palestrantes e pode contribuir de forma significativa para que a gastronomia seja efetivamente um patrimônio. O que falta é um processo de comunicação eficiente, que se interesse em disseminar conhecimento especializado. Deixo aqui uma pimentinha sobre a participação dos meios de comunicação. Publicações pipocam, sim. Mas o conteúdo ainda deixa a desejar. Não falo de revistas especializadas, estas também podem crescer, mas os meios de massa, que tratam o tema, porém, de sem muitos temperos. Acho a crítica pouco eficaz e reduzida nesse processo. Defendo tratar de temas abordando a comida sob aspectos sociais, culturais, artístitico e de entretenimento.


Como disse Glória López, ex-coordenadora Nacional do Patrimônio Cultural e Turístico no México, se estamos na era da informação, do conhecimento por quê não se apropirar disso para utilizar os recursos naturais de forma inteligente? Glória é uma senhora simpática, falante e tipicamente latina, entusiasta, apaixonada pelo que faz. Sem meias palavras, ela disse que a era do petróleo se esgotou e estamos na era da gastronomia – motor fundamental para o desenvolvimento do país (como já citei). Trata-se de um fenômeno ampliado, que traz bens agregados e reforça o elo de pertencimento.

Ao ouvir pessoas gabaritadas falando sobre meu tema predileto, tenho certeza de que estou no caminho certo e não abro mão de me envolver cada vez mais. Fico emocionada de ver tanta gente capacitada falando da gastronomia como assunto sério. Para mim, sempre foi. Meu desejo é que essa visão seja partilhada, que muitas pessoas descubram a importância da comida em seu cotidiano e a para nossa identidade cultural. Que enxergem a beleza, a poesia e arte inscrita na alimentação. Achie fantásitco quando a Glória falou que os grantes artistas, pintores e filósofos passaram pela cozinha.

Ah, adorei também um termo que ela usou: ecogastronomia, abordando-a como um patrimônio cultural sustentável renovável. Chique, né? Glória defendeu a uma visão interdisciplinar no desenvolvimento sustentável de diversos segmentos sociais. É isso! Este é apenas um pequeno apanhado. Anotei tudo. Fiz bons contatos e fiquei animada para colocar um projeto em prática. Com esses depoimentos, percebi a urgência em dar minha contribuição para a gastronomia nacional. Sem pretensões, mas pautada em pesquisa, conversas e uma paixão arrebatadora. Quem me conhece, sabe. Como jornalista e sabedora da importância da mídia para a gastronomia, me sinto comprometida participar dessa construção. Ainda tenho muitas coisas boas para compartilhar.

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