6.8.08

Tá hora do Recreio!



O simples está na moda. Privilégio para poucos que talvez não experimentaram a modernidade da vida urbana mas, nem por isso, deixaram de inspirar tendências de consumo. A simplicidade agora é luxo. Tive a oportunidade de visitar um desses redutos sossegados, livres de tecnologias como celular, internet e até televisão. É um alívio para a acelerada rotina dispensar esses aparatos. Eu e meu marido, o Fernando, fomos convidados pelo casal de amigos Ricardo e Raquel para conhecer a cidadezinha mineira de Recreio, que preserva essa simplicidade com fartura e autenticidade. Com pouco mais de 10 mil habitantes, Recreio – ao contrário de sua xará carioca – dá preferência ao trânsito de pessoas. Pelas poucas ruas de paralelepípedo cruzamos com gente, cavalos e jumentos. Bastou algumas voltas na típica cidade cenográfica para conhecer o roteiro dos apetitosos programas em Recreio. Os amigos nos avisaram que a principal atração seria a comida. Como adoramos aventuras gastronômicas, embarcamos famintos.

Fomos recebidos por nossos anfitriões, Eliane e Luiz, com “comida mineira de verdade”, avisaram. No menu, carne de panela, batatas coradas, arroz e um feijão acolhedor. Pela recepção já sabíamos que os próximos dias seriam de fartura à mesa e de refrigério para o corpo. As opções de lazer foram substituídas pelas opções de comer. Na padaria da Mara provamos um rocambole de doce de leite com jeito mineiro, aquele que parece que foi feito na sua casa pela sua mãe. Isso sem contar o pé de moleque, fresquinho e crocante. Ficamos fregueses em apenas um final de semana. Foi Mara! (como diria o seu Ladir, da série global Toma Lá da Cá).

No roteiro, provamos uma combinação provocante: aipim com torresmo. Sem reservas. Sem frescuras. Sem dietas. Preferimos não pensar em colesterol. Poderia estragar o nosso Recreio. E era tudo que não podia acontecer. Estávamos famintos, interessados em conhecer pela boca a cidadezinha acolhedora. Adoramos o aipim com torresmo. Repetimos a porção no dia seguinte. A pele crocante, dourada e enrugada, estalava a cada mordida. Era um convite tentador. Não deu para resistir. Afinal de contas, não encontro esse torresmo em qualquer lugar. Estava no Recreio, tinha que aproveitar.

Ah, também comemos churros. Adoro churros, mas sempre fico receosa de comer nas barraquinhas do Rio. Matei as saudades. Era um dos lanches prediletos no recreio escolar. Ainda conheci o cachorro-quente mineiro, feito com carne moída. Aprovado. Assim como o doce de batata doce, o de abóbora e o cajuzinho. Tudo feito em casa com muito amor. Foi de dar água na boca o papo que ouvi de duas senhoras sobre a versatilidade da nata, que els acumulam do leite fresco. Biscoito, manteiga, bolo, pão. Tentei pegar alguma receita, mas sem sucesso. “O leite que você consome não tem nata. Não dá para fazer as receitas”, ouvi de uma delas. Tá certo. Nem insisti. Fiquei só na vontade.

Um dos programas mais interessantes foi o açougue suíno do seu Vilder. Há 25 anos no ofício que aprendeu com pai, ele prepara diariamente lingüiças , bacon, presunto, lombo defumado, paio e choriço. Tudo artesanal. Todos os dias o porco chega de Cataguases para o matadouro de Recreio. Depois o bicho é destrinchado com maestria por Vilder, que tem clientela certa e ainda recebe encomendas do Rio e de São Paulo. Ele aproveita porco inteiro. Transforma o bicho em versões deliciosas. Nada fica sub-utilizado. Ele vende até um kit feijoada, apreciado e disputado pelas donas de casa para colocar no feijão.

O movimento no açougue é frenético. Fiz minha encomenda antes de chegar na cidade porque corria o risco de não ter linguiça, já que era época de feira agropecuária. Uma das lingüiças é temperada com noz moscada e pimenta malagueta. Adorei. Para preparar, fogo baixo e paciência. Vale a pena. Deliciosamente fresca, saborosa, tenra, com o gosto acentuado do pernil. Vilder contou que produz 150 kg por semana para atender a demanda. O trabalho é feito pacientemente por ele e pelo seu filho, Bruno. E mesmo passando o dia produzindo co-produtos do porco, ele diz que não enjoa. É porco de manhã, de tarde e de noite.

O banquete encerrou no domingo com um suculento churrasco de porco, claro. Um sabor exclusivo, mineiro mesmo. Toda essa atmosfera, que combina fartura à mesa com hospitalidade, nos fez sentir em casa. De verdade. Prova disso foi a noite de sono tranqüila. Em Recreio, o tempo passou mais devagar, bem slow. Adoramos a familiaridade, a comilança, a simplicidade, o apreço. A comida foi o lazer, o centro do convívio e do prazer. Não faltou assunto, receita e sugestõs para experimentar. Teremos que deixar para a próxima viagem. Na bagagem, além das linguiças, carré e bacon, trouxemos para o Rio manteiga, ovo caipira e doces. A celebração do simples tem complexidade e distinção. Só quem tem sensibilidade (inclusive gastronômica) é capaz de se encantar com o aconchego de uma mesa bem posta. O Recreio foi divertidíssimo. Pena que tocou o sinal.

20.7.08

Aquele que sabe compartilhar o pão




Companheiro é aquele que compartilha o pão. Aquele com que se tem prazer em sentar à mesa. Aquele com quem se quer viver em comunhão. Viver em comunhão é compartilhar. O símbolo da comunhão foi instituído por Jesus Cristo ao eleger a mesa o lugar dos amigos; e o menu, vinho e pão.

Como é bom ter amigos para compartilhar o pão nosso de cada dia, as alegrias e as tristezas. Como é bom ter com quem dividir uma boa notícia. Ou ao contrário, quando alguma surpresa desagradável bate à porta. Amigo até debaixo d’água. Amigo que sabe dividir, justamente, uma porção de batatas-fritas. Que não faz “judaria” na hora partilhar a última fatia de pizza. Que é capaz de partir ao meio o último brigadeiro.

Ter um amigo assim é uma dádiva. Se você tem mais de um, considere-se um privilegiado. O rei Salomão reconheceu em muitos dos seus versos a importância de se ter um amigo. “Como o óleo e o perfume alegram o coração, assim, o amigo encontra doçura no conselho ideal” (Provérbios 27:9). Para Salomão, há doçura no conselho do amigo. E confesso que não há nada mais delicioso do que se refugiar numa acolhedora sobremesa. Da mesma forma que um docinho faz bem., o amigo sincero, mesmo quando fala palavras duras, é doce como uma torta de morango ou um sorvete de chocolate.

Hoje é o Dia Internacional do Amigo. E sou grata a Deus pelos amigos que tenho. Amigos para compartilhar o pão. Amigos onde encontro doçura em seus conselhos. Amigos que tem prazer em sentar à mesa e celebrar a amizade, que nos fazem reconhecer o amor, o cuidado e a grandeza de Deus. Impossível não se sentir protegido por Deus quando se tem um amigo.


24.4.08

Slow Food e restaurante O Navegador celebram mandioca

Dia 22 de abril é o dia da Mandioca. Para homenagear o tubérculo, o restaurante O Navegador e o Slow Food convidam para o Convescote Cultural no próximo dia 28, às 12h, no próprio restaurante, no centro.

O evento começa com a apresentação do filme "Seu Bené vai para a Itália", seguido de degustação de pratos feitos com as diversas variações de farinha de tapioca elaborados pela chef Teresa Corção. No menu, porções de farofa de pirarucu com farinha d´água do seu Bené de Bragança (Pará), pirão de camarão feito com farinha polvilhada de Santa Catarina, moqueca com farofa de dendê feita com farinha de copaíba da Bahia. De sobremesa, tapioquinha brulée com recheios e panna cotta Brasil.

Os valores variam de R$20 a R$40, incluindo a exibição do filme e a quantidade de produtos consumidos. Parte da verba será revertida para o Instituto Maniva pela defesa da biodiversidade gastronômica brasileira. Membros do Slow Food têm 10% de desconto.

Serviço:
O Navegador. Av. Rio Branco 180, 6° andar. Centro. Club Naval
Reservas: 2262- 6037
Horário: 12h

45% das inglesas trocariam senhas da internet por chocolate

Analistas de segurança da Infosecurity Europe realizaram uma pesquisa com homens e mulheres britânicos e concluíram que quase a metade das mulheres inglesas trocariam suas senhas de e-mail por uma barra de chocolate.

Foram entrevistados 576 funcionários de companhias em Londres. Para conquistar os entrevistados, a pesquisa oferecia uma barra de chocolate pelas informações. Quarenta e cinco por cento das mulheres entregariam suas senhas para estranhos que se passassem por pesquisadores de mercado. Com os homens, o número cai para 10%. E se chocolate dá prazer, uma viagem à Paris é muito mais excitantes para os britânicos. Sessenta e dois por cento das mulheres e 60% dos homens entregariam suas senhas em troca de uma vigem à capital francesa.

Os resultados são melhores se comparados a uma pesquisa semelhante feita em 2007, que revelou que 64% dos entrevistados trocariam a senha por uma barra de chocolate, número que caiu para 21% neste ano.

Fonte: The Register
Equipe Malagueta

Wapsite traz receitas para o Dia das Mães

Para celebrar a data, a Abril coloca no ar o wapsite Dia das Mães, com receitas de Claudia Cozinha para os filhos baixarem no celular. Além do conteúdo da revista, é possível também fazer o download dos roteiros gastronômicos das Vejas Rio e São Paulo. Tudo para garantir o sucesso do almoço de domingo!

O especial ainda traz dicas de Claudia para as mães e uma seleção de citações sobre a maternidade, que podem ser enviadas no formato de mensagens de texto. Os filhos adolescentes podem fazer média com a mamãe baixando os dados da revista Capricho para a ocasião, como o teste "Você tem uma mãe salva-vidas?" e o horóscopo no Dia das Mães.

A partir do browser do celular, os clientes Vivo devem clicar em Portal Vivo > Portais > Abril Sem Fio > Dia das Mães. Usuários Claro e de outras operadoras devem digitar
http://wap.abril.com.br no navegador WAP do telefone móvel.

Fonte:Assessoria
Equipe Malagueta

Associação Brasileira de Gastronomia Molecular realiza primeiro encontro no Rio de Janeiro

Por que o pão fica dourado e com um cheiro irresistível? E a clara de ovo? Porque fica branca? Qual o segredo para erguer um belo suflê, que causa insegurança até em chefs talentosos? E a maionese, como a mistura de azeite e gema de ovo pode virar uma pasta? Na próxima quarta-feira, dia 30, acontece o I Encontro de Gastronomia Molecular, promovido pela Associação Brasileira de Gastronomia Molecular (ABGM).

Presidida pelo físico e historiador Enrique Renteria, que coordena o curso Design e Tradição na Gastronomia (PUC-RIO), a proposta é demonstrar o que se passa na cozinha do ponto de vista científico, e como esses conhecimentos podem ser utilizados para criar novos pratos e aperfeiçoar receitas tradicionais.

As questões apontadas acima fazem parte das investigações da Gastronomia Molecular, que também põe a prova conselhos e mitos culinários. De acordo com Renteria, muitos são verdadeiros; outros são falsos. Ele explica que o objetivo destas experiências é sistematizar os conhecimentos na cozinha para garantir segurança e melhores resultados.

Renteria destaca que o cientista Hervé This, idealizador do projeto, propõe que a
Gastronomia Molecular é uma demonstração de amor porque as receitas podem proporcionar alegria e satisfação tanto para quem prova como para quem executa numa alquimia dos sabores e sentidos.

Neste primeiro encontro, ele vai abordar conceitos e práticas, mostrando a relevância para a culinária no dia a dia. As sessões serão seguidas de experiências, como por exemplo, a da maionese, que contará com observação através de microscópico para compreender os fenômenos implícitos na execução de um prato.

O I Encontro de Gastronomia molecular acontece a partir das 19h30, no Ateliê de Alquimia Culinária, em Botafogo. A entrada custa R$ 40,00.

Serviço
Evento: I Encontro de Gastronomia Molecular
Local: Ateliê de Alquimia Culinária
Endereço: Rua Martins Ferreira, 71, Botafogo, Rio de Janeiro
Contato: (21) 2226-4002 2226-4819 ou
contato@malaguetacomunicacao.com.br

8.3.08

A constelação misteriosa do Michelin

Le Grand Vefour - que há dois séculos é uma instituição em Paris com vista para os jardins do Palais Royal – perdeu sua terceira estrela no prestigiado Guia Michelin. Este foi o único restaurante que teve sua constelação destituída, na edição de 2008 da Bíblia da gastronomia francesa. De acordo com o diretor, Jean-Luc Naret, os inspetores que avaliam os restaurantes visitaram o chef Guy Martin entre 10 e 12 meses, durante 2 anos, antes de decidir rebaixá-lo. “O problema é a consistência. Guy Martin não perdeu o seu talento, mas quando se tem um dos 68 melhores restaurantes do mundo, tem que ser bom todos os dias”, disse Naret em entrevista à Associated Press.

Martin que começou sua carreira em uma pizzaria e passou a comandar jantares com a clássica culinária francesa – preferiu não comentar o ocorrido. No momento, ele está envolvido no projeto de um novo restaurante em Boston, chamado Sensing. O restaurante foi inaugurado em 1784 e ostentou uma imponente clientela como Napoleão e sua esposa Josephine, os escritores Victor Hugo, Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Colette e André Malraux, de acordo com o seu website.

A edição 2008 do Guia Michelin (disponível em francês e inglês) incluiu 435 estabelecimentos com 1 estrela; 638 com duas; e 26 com três. Apenas um estabelecimento - Le Petit Nice – localizado no sul da cidade de Marselha conquistou o disputado ranking três estrelas. Este também é o primeiro da região a ganhar a mais alta classificação no guia. Fundado em 1917 pelo avô do atual chef Gerald Passedat, a casa é especializada em frutos do mar. Para ele, a premiação é “a consagração de três gerações de chefs” e que sente honrado pela sua família, equipe e clientes”. Seu menu inclui uma moderna interpretação de bouillabaisse, que o restaurante promete ser light e com gosto de mar”.

Naret afirmou que o Le Petit Nice foi premiado por utilizar ingredientes locais e reinterpretar as receitas de sua família com um sabor surpreendente. O Guia Michelin está justificando suas decisões com mais freqüência por conta da repercussão de um livro publicado em 2004 por um antigo ex-inspetor. Ele alegou que o guia havia poucos inspetores para visitar os restaurantes e alguns chefs mantinham suas estrelas apenas por prestígio. O diretor insistiu que o Guia trabalha com agentes anônimos – responsáveis por erguer ou declinar a carreira de um chef – não emitem suas opiniões. Ele ainda disse que cerca de 15 inspetores que trabalham em tempo integral mantêm sigilo inclusive da família. Qualquer inspetor que for descoberto por um restaurante fica impedido de visitar a região onde este está localizado por cinco anos.

Os profissionais viajam cerca de 18 mil quilômetros por ano e visitam, em média, 800 restaurantes e hotéis. E apesar de comerem constantemente na alta gastronomia, o esteriótipo desses gastrônomos anônimos é slim. “É a dieta do Michelin. As mulheres francesas não engordam e os inspetores Michelin também”, disse Naret.

Em 2003, o suicídio do francês Bernard Loiseau após ter perdido sua terceira estrela gerou grande comoção e acendeu o debate sobre as pressões da mídia para com a alta gastronomia. Um ano depois, o Guia sofre novo abalo, agora por um ex-integrante do secreto guia, fundado em 1900. Diante desses escândalos, a organização procura, em 2008, ser mais transparente em suas decisões. Entretanto, a fala de Naret ao mesmo tempo em que tenta demonstrar clareza aponta para uma rede misteriosa e reforça sua credibilidade partindo da negação da identidade de seus agentes. Será saudável manter uma avaliação de restaurantes em tão intrigante trama de mistérios?

7.3.08

Antes de partir: o sabor do café


Dois estranhos com estilos de vida completamente opostos – inclusive os hábitos alimentares – se conhecem num quarto de hospital e iniciam uma amizade intensa com experiências transformadoras. Antes de partir, relata a virada do milionário Edward, interpretado por Jack Nicholson (dono do hospital onde estão internados); e o mecânico Carter, pai de três filhos que não realizou o sonho de ser professor, vivido por Morgan Freeman. A diferença entre os dois homens - que têm em comum a faixa etária e a previsão de no máximo 12 meses de vida – é evidenciada pela alimentação, que ao final da trajetória da dupla deixa bem claro o que representa as escolhas de cada um.

O aforismo de Brillat-Savarin “diga-me o que comes e te direi quem és” é preciso para definir a personalidade de Carter e Edward. O perfil deles foi delimitado no filme a partir do café que eles consomem. Dado relevante, pois os personagens são americanos e, de acordo com pesquisas, os Estados Unidos são os maiores consumidores da bebida no mundo. Carter é fã do popular Chock Full o’Nuts, uma rede de fast food que existe há 75 anos, em Nova Iorque. O personagem, inclusive, coleciona latinhas antigas da bebida, que tem uma função especial para a dupla.
Já Edward é apreciador do Kopi Luwak, conhecido como o café mais caro do mundo, comercializado a 250 euros o quilo. A bebida é produzida na indonésia a partir da digestão de um pequeno marsupial asiático chamado Luwak. Os preparadores recolhem as fezes do Luwak, lavam os grãos cuidadosamente e produzem, assim, aquele que os especialistas consideram o melhor café. Equipado com uma cafeteira-sifão luxosa, o personagem toma frequentemente a bebida, ostentando sua qualidade, sabor e exclusividade. Mesmo no hospital, o Kopi Luwak e o kit de utensílios o acompanha.
Como bom gourmet, o personagem de Jack Nicholson encomenda suas refeições de um renomado restaurante italiano, enquanto Carter aguarda sua sopa de ervilha, da qual reclama do sabor. Os hábitos refinados do amigo Edward não impressionam Carter, que por várias vezes rejeita o convite para degustar o Kopi Luwak, o que deixa Edward indignado. Carter sabe contar a origem do café e diz que prefere o seu instantâneo Chock Full o’Nuts. Ao se lançarem numa aventura emocionante – contrariando os médicos e o bom senso – a dupla compartilha conflitos, alegrias e tristezas. A conviência contribui para o aprendizado, produzindo experiências singulares, capazes de valer por toda uma vida.
Seguindo uma lista de tarefas para serem cumpridas antes de partir, Carter e Edward superam desafios e encontram na simplicidade o prazer de viver. As diferenças produzem afinidades e a interpretação cativante de Nicholson e Freeman traz uma reflexão a respeito da amizade e dos laços afetivos, como os familiares. Uma cena emblemática que envolve os hábitos alimentares é o retorno da viagem. Enquanto Carter é recebido pela família com uma mesa farta e alegre; Edward contrata duas garotas de programas e sente, pela primeira vez, uma imensa solidão. Ao buscar refúgio na comida, entra em desespero ao ver que acabou o sachê do refinado Kopi Luwak e, ao abrir a geladeira, encontra um prato de refeição pronta numa embalagem irritantemente difícil de abrir. É hora de rever os seus valores. As cenas que seguem mostram um milionário quebrantado, capaz de chorar em público ao falar de suas emoções e de reencontrar a alegria nas pequenas coisas. A lista de desejos é seguida rigorosamente até o final – não exatamente da forma como os dois imaginavam – mas de maneira surpreendente, onde o popular Chock Full o’Nuts permeia a narrativa do início ao fim, agregando as diferenças.

1.2.08

Menu indigesto em Davos


A produção e o abastecimento de alimentos foram temas de destaque na 38ª edição do Fórum Econômico Mundial de Davos (Suíça), que aconteceu na semana passada. O encontro, que reuniu cerca de 30 chefes de Estado e um público estimado em 2.500 pessoas, apresentou os desafios da economia global frente a problemas como a crise dos mercados, a iminente recessão dos Estados Unidos e o crescimento populacional. Entre os painéis dedicados à alimentação estavam “Repensando a cadeia alimentar” e “Nós somos bio-imprudentes”.

Uma dos temas polêmicos do encontro foi a alta dos preços dos alimentos, que está causando uma série de problemas em países emergentes. Kamal Nath, ministro do Comércio na Índia, por exemplo, advertiu que o custo da comida duplicou este mês, justamente quando havia a expectativa de que 25 milhões de pessoas teriam condições de fazer entre uma e duas refeições. “No próximo ano vamos discutir isso em Davos”, afirmou.

Os analistas prevêem que os preços dos produtos agrícolas em todo o mundo devem aumentar, principalmente os cereais, devido ao índice de impostos para exportação, a demanda global e especulação. O presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, também soou o alarme destacando que o custo das necessidades nutricionais básicas subiu acentuadamente em muitos países como a África. “Há quinze países vulneráveis à alta dos preços de energia e alimentos. Precisamos de alguns esforços direcionados a estas populações”, disse.

Essa alta se deve a expansão do cultivo de culturas como milho e cana-de-açúcar destinadas ao biocombustível, o que gerou fortes críticas as novas fontes de energia. Antes visto como uma “solução verde” para suprir as necessidades energéticas mundiais, o biocombustível foi o tema do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, presidido por Rajendra Pachauri, Prêmio Nobel da Paz. “Sempre que a produção de combustíveis entrar em conflito com a produção de alimentos, especialmente em um momento de alta dos preços de produtos alimentícios, estamos num território difícil. Em geral, não estou satisfeito com o desvio de áreas de produção de alimentos para combustível”, disse aos jornalistas.

Para Alan Greenspan, ex-presidente do Fed, o banco Central Americano, os preços de alimentos subiram em 2007 de forma preocupante no mundo inteiro. O mercado aumentou a produção para tentar equilibrar essa demanda crescente (a produção mundial de cereais de 2007 foi de 4,6% maior que a de 2006), mas em volume foi insuficiente. Dois fatores estão por trás da alta da inflação de alimentos: mais bocas para alimentar e a procura por uma energia mais limpa, que ocupa o espaço das plantações. Este impacto simultâneo nos preços recebeu o nome de agflação (agricultura + inflação).

O Brasil é o maior produtor de cana-de-açúcar, que pode gerar tanto etanol como açúcar e derivados. Almir Barbassa, diretor-financeiro da Petrobrás, declarou que com a alta do Petróleo, é mais vantajoso direcionar a cana para o etanol ao invés de produção de alimentos. “Os agricultores têm o direito de fazer o que quiser com os seus produtos. É uma escolha dele e não dos mercados”. Talvez esta não tenha sido uma resposta adequada, visto que historicamente o Brasil enfrentou crises de abastecimento por causa do desequilíbrio entre exportações e agricultura de subsistência, gerando maior importação de alimentos. Priorizar os campos para exportação da cana pode desencadear uma crise na agricultura local e, consequentemente, na economia. Vide a história da agricultura e do abastecimento no Brasil.

E, para falar de comida, é preciso comer. Sentir no paladar o preço pago por esta crise mundial da alimentação, mas sem indigestão, é claro, para melhor fluição das idéias. Por isso, a chef Alice Waters cumpriu sua missão em Davos. Ao lado dos chefs David Lindsay e Jennifer Sherman, o trio preparou um jantar com o tema “Comida – Um novo mundo saudável”, utilizando ingredientes locais, fornecidos por agricultores, pescadores, padeiros, viticultores, entre outros, da Suíça.
Os chefs colocaram em pratica o conceito Food Miles, buscando os alimentos mais próximos para fomentar ainda mais as discussões. O jantar aconteceu no dia 23 de janeiro, no Hotel Schatzalp. À mesa, nomes de peso como o jornalista Michel Pollan, Orville Schell e Peter Sellars, que deram sua contribuição ao evento. No menu, sopa de alcachofra com cominho e alho; e polenta de milho vermelho e vegetais grelhados.

Para lidar com os desafios da alimentação contemporânea, é preciso analisar a comida como um gênero de fronteira, que toca o político, o econômico, o social e o cultural. A proposta de desaceleração do crescimento mundial deve servir para avaliar quais são esforços necessários para solucionar a crise energética com o compromisso de preservar a cadeia alimentar e a sustentabilidade do planeta. Comida serve para pensar, agir e transformar.

Ai, que saudade!


“Pensei como devia estar boa a sopa dourada da tia Vicência. Há quantos anos não a provava, nem o leitão assado, nem o arroz de forno da nossa casa”. O civilizado Jacinto da Paris do século XIX deixou para trás a tranqüila serra de Tormes, em Portugal, para desbravar a Cidade das Luzes na esperança de saborear plenamente a delícia de viver. “Não há senão a Cidade, Zé Fernandes, não há senão a Cidade”, dizia Jacinto para seu fiel amigo. As “pequeninas misérias duma Civilização deliciosa” abria o seu apetite. Entretanto, mesmo em meio a este gosto punjente com aroma de novidades, que lhe garantia o status de civilizado, o pobre Jacinto reclamava: “Paris está perdendo sua superioridade. Já não se janta mais em Paris!”.

A saudade da vida simples de Tormes aguardava o momento certo para saciá-lo. Volta e meia, uma pimenta ardia em sua consciência: “Nem a ciência, nem as artes, nem o dinheiro, nem o amor, podiam já dar um gosto intenso e real às nossas almas saciadas. Todo o prazer que se extraíra de criar estava esgotado. Só restava agora, o divino prazer de destruir”. E sorvendo o champanhe coalhado em sorvete, maldizia o Século, a Civilização. Para compreender a tristeza em que se metera sua vivacidade, o amigo Zé Fernandes, não tardava em dar a receita: o retorno às serras de Tormes. Longe da civilização seria possível encontrar sentido, prazer e gosto. “O Homem pensa ter na Cidade a base de toda a sua ilusão e só nela tem a fonte de toda a sua miséria”, retrucava o refinado Príncipe de Tormes.

A sua falta de apetite pela vida, uma desconfortante sensação de saciedade, foi revertida após o encontro com as delícias da serra. “Santo Deus! Há anos não sinto esta fome!”, declarou ao se deparar com uma fumegante travessa de arroz com favas. Seu amigo Zé Fernandes observou que Jacinto “parecia saciar uma velhíssima fome e longa saudade da abundância, rompendo assim, a cada travessa, em louvores mais copiosos”. O motivo de tamanho entusiasmo estava na simplicidade do louro frango assado no espeto e da salada que ele apetecera na horta, temperado com um azeite da serra digno dos lábios de Platão, sem falar no vinho de Tormes, descrito como fresco, esperto, seivoso, “entrando mais na alma que muito poema ou livro santo”.

A experiência de Jacinto, personagem do livro A Cidade e as Serras, de Eça de Queiroz, aponta que a saudade é um tipo de fome, que é saciada pela memória gustativa. Através do gosto, as lembranças podem ser aquecidas e, quando entram em ebulição, revelam o sabor da vida. A comida sacia a alma, alimenta a memória. E, partindo da afirmação de Bergson, que diz que toda consciência é memória - conservação e acumulação do passado no presente -, pode-se destacar o papel da comida nessa construção e preservação da identidade.

As madeleines com chá do escritor francês Marcel Proust recobrou suas memórias de infância e resultou num dos maiores clássicos da literatura, Em Busca do Tempo Perdido. E Jesus Cristo instituiu o pão e o vinho como elementos sagrados para ativar a memória dos cristãos. Esses são alguns exemplos de como a memória aliada à comida é capaz de provocar transformações seja na vida pessoal, nas pessoas que estão em volta ou até para toda humanidade.

A saudade, verbete privilegiado da língua Portuguesa, é comemorada no dia 30 de janeiro. E, gastronomicamente falando, poderia ser definida como o caderno de receitas do cérebro com direito a anotações, observações e rabiscos à caneta. Funciona com o detalhamento de uma ficha técnica, utlizada pelos chefs de cozinha. Basta passar um aroma, que a memória codifica o receituário da saudade.

Confort Food indutrializadoA comida de infância não se restringe apenas aos pratos das mães, tias ou avós. O conceito de Confort Food (comida que conforta) também se estende aos alimentos industrializados. Prova disso é que as décadas de 70 e 80 trouxeram guloseimas que entraram para a história da vida de muitas pessoas. E, basta revê-los nas prateleiras dos supermercados ou comentar numa roda de amigos, para vir à tona deliciosas lembranças.

Um dos ícones gastronômicos dos anos 80 foi o Deditos, da Nestlé. Os biscoitos em formato de palitinho coberto com chocolate aguçavam o paladar da garotada que até hoje, mais crescidinhos, não dispensam este confort food industrializado. Segundo a assessoria de imprensa da Nestlé, o retorno do biscoito veio atender aos apelos nostálgicos dos fãs, manifestado até em comunidades no Orkut como "Corrente volta Deditos” e “Eu adoro Deditos”. O produto foi citado no Almanaque 80 (Ediouro) como um marco da década. Mantendo o mesmo sabor, ele voltou em 2007 numa embalagem mais moderna, prática e maior. O lançamento foi feito nos mercados da região Sul, Sudeste e Centro-oeste. A notícia da volta do Deditos, agora na versão sabor de infância, se espalhou logo, principalmente no boca a boca (literalmente). Agora, a prateleira dos biscoitos tem mais um motivo para uma visita periódica. É a deliciosa pílula da saudade.

Outro industrializado que saiu de linha, mas não retornou, foi o Mirabel. Há citações na internet definindo o waffle como um marco da engenharia alimentar moderna. “Nunca um biscoito waffle foi tão homogêneo e compacto, tão doce e suave. Sua crocância mesclava-se perfeitamente com sua estabilidade, ao contrário de seus concorrentes que se desmanchavam em um dia de calor. Seu tamanho era perfeito, duas mordidas seguidas de longos segundos de degustação. Até a quantidade era bem pensada, oito por pacote, ideal para dividir com aquela pessoa amada, o "banquete a luz de velas" das paixões dos pátios escolares. Feito com o mais nobre dos chocolates, o mais puro dos waffles e um incrível ingrediente secreto, talvez amor (ou provavelmente um substituto químico). Mirabel é uma utopia, não nasce em árvores pois nem mesmo a louvável mãe natureza seria capaz de combinar tão poucos ingredientes com tamanha perfeição.”, diz o texto Tributo ao Mirabel. O wafle também tem comunidades no Orkut com até 3.500 membros.

Fabricado pela Adams, foi sucesso entre jovens e crianças da década de 70, 80 e 90, saindo de linha em 2001. Apesar dos protestos, não há possibilidade de retorno. Aliás, os funcionários da empresa nem sequer lembram do biscoito que ficou na memória de uma geração. A atendente do 0800 153045 não sabia do que se tratava. A assessoria de imprensa informou que desconhecia o produto e passou a ligação para o setor de marketing, que só caía numa secretária eletrônica. Parece que o gosto do Mirabel vai ficar só na memória de quem saboreou por três décadas o lanchinho. Disponível ou não no mercado, o confort food industrializado representa as melhores lembraças da infância. E sempre que o assunto "saudade" entra na mesa, a comida - artesanal ou industrial - é o prato principal porque nutre e alimenta a alma.