23.10.07

Experiências gastronômicas: bolo de farinha de banana verde


Todo domingo eu faço um bolo para presentear pessoas especiais. E sempre busco aperfeiçoar a receita, selecionar bem os ingredientes, testar o paladar, texturas, cores e sabores. No domingo passado (21), fiz o bolo com a farinha de banana verde, que trouxe de Brasília. O produto é fabricado artesanalmente e vem de Acrelândia (Acre).

Rica em nutrientes e vitaminas, a farinha de banana verde auxilia no combate à diabetes, doenças cardiovasculares e perda de peso, se associada em dietas. O mais interessante é que se trata de um produto disponível e faz parte da biodiversidade alimentar brasileira. É fascinante conhecer técnicas de preparo e aproveitamento de nossos ingredientes, desenvolvidas por brasileiros. São criações que proporcionam não só subsistência, mas saúde e preservação da cultura.

O sabor da farinha é forte. Pelo menos na receita que fiz deu para sentir na cor, na textura e no paladar. Além da farinha, coloquei banana picada e canela por cima. Ficou delicioso e nutritivo. Ainda sobrou farinha, vou testar a receita de pão. Quanto mais cozinho, melhor poderei escrever; e quanto mais escrevo, melhor poderei cozinhar. E nessa experiência o paladar vai ficando apurado e a memória transbordando de boas lembranças.

Confraria dos Judas


Na semana passada (16) Tia Paty, minha amiga querida, fez aniversário e resolvi presenteá-la com um jantar saudável. Aproveitei as receitas que aprendi na aula de cozinha vegetariana do Alquimia Culinária e testei com minhas cobaias fiéis: Fernando, Patrícia, Eduardo, Mateus, o chef-mirim, e a convidada especial Nice (mãe da Paty).

Toda quinta-feira nos reunimos para fazer a Confraria dos Judas. O menu não é nada elaborado, mas a diversão é garantida e o prazer de estar junto é o ingrediente principal. Essa é a receita infalível de uma amizade que dura anos e nos traz muita alegria. Nossas reuniões semanais são sempre em torno da comida. E descobrimos que fazer o menu na casa de um ou de outro sai bem mais barato do que comer fora. Por isso, mais um motivo para reunir os amigos em casa.

E a teoria dos Judas acaba de receber um reforço. Um estudo americano da Universidade de Temple (Pensilvânia), realizado entre 2004 e 2006, constatou que para cada refeição semanal fora de casa, a pessoa ganha meio quilo a mais. Para dois almoços ou jantares regulares, engorda 1,25 quilo e, para três, pode contar com cerca de dois quilos suplementares. Ainda bem que no final de semana, garatimos a boa forma em casa.

Para o aniversário da Paty, fizemos tortinha de legumes, bolinho de espinafre e bolo de laranja com o doce da casca (trouxe de Brasília). A tortinha ficou deliciosa e já foi incorporada ao menu. Já o bolinho, precisa ser aperfeiçoado. Mas para minha surpresa, um dos judas, o Eduardo (que olhou torto para o prato), adorou o tal do bolinho de espinafre. Apesar de não ter rolado uma carne como de costume, a turma engoliu a sugestão.

Estamos todos na casa dos 30 e algumas mudanças começam a ser implantadas. A alimentação é uma delas. Depois de muito fast-food, pizzas e “podrão” resolvemos preparar nossa própria comida. É claro que abrimos exceção para a pastelaria do Tauá (Ilha do Governador) e a lendária lanchonete Água Viva (também na Ilha), que tem o melhor brigadeiro do Rio. Que me desculpe a Colher de Pau (vencedora implacável da edição Comer & Beber, da revista Veja Rio). Mas isso é assunto para outra conversa. A comida é assim, um baú de memórias deliciosas.

15.10.07

Apetite


O apetite é um desejo que deve ser estimulado. Sem apetite, a vida fica sem graça, sem sabor, sem gosto. Não dá vontade de provar, experimentar os desafios.

Ah! A vida tem sabor e a fome é um ingrediente indispensável para descobrir e reencontrar o prazer diariamente. Existe fome e sede de justiça, fome de bola, fome de leão e tantas outras que instigam, provocam, desencadeiam reações, apetecem o paladar, confortam, transformam, renovam.

Recentemente, amarguei uma semana sem apetite. Parecia outra pessoa. Não tinha a mesma disposição sem apetite. Na sexta-feira, recobrei a fome e preparei um menu especial com produtos que trouxe do evento Terra Madre (Brasília): arroz vermelho (Vale do Piancó/PB) com feijão Canapu (Piauí), salada de folhas (horta da casa dos meus pais), queijo coalho na brasa e carne temperada com leite à moda do seu Pacheco (meu pai). Simplesmente devorei com vontade, com apetite... com ânimo. Tive certeza de que estava recuperada. Como é bom ter apetite para saborear com prazer tudo que a terra-mãe nos proporciona.

E no domingo, preparei um bolo com a castanha de Bauru, conhecida como castanha do cerrado, que também veio na bagadem de Brasília. A origem é de Pirinópolis (GO). Bati o leite com a castanha e acrescentei à mistura da massa básica do bolo. A cor ficou linda, em tons de marrom. E o sabor também. Ah, como é bom ter apetite! Não dá para cozinhar sem apetite e acho que também na dá para viver. Seja qual for o seu objetivo, tem que ter muita fome. E, no meu caso, não dá para escrever sem apetite “O principal requisito para se escrever bem sobre comida é ter um bom apetite”, A. J. Liebling.