3.1.07

100 anos depois, a indústria de alimentos ainda é “A selva”

The New York Times

Nada no “A selva” se prende ao leitor tanto quanto o que foi dentro das salsichas. Havia o presunto apodrecido que não podia mais ser vendido como presunto. Havia as fezes do rato, veneno de rato e ratos envenenados inteiros. Mais refrescante, havia as coisas sem nome “que em comparação com o que o rato envenenado, era um bocado”.

Upton Sinclair escreveu “A selva” como um trabalho revelado. Ele esperava que o livro, que foi anunciado como “A cabine do tio Tom de escravidão de salários”, levaria a melhorias para as pessoas para quem ele dedicou o livro, “os homens trabalhadores da América”. Mas leitores do “A selva” ficaram menos chocados com as descrições horríveis das condições de trabalho do que sobre o que eles aprenderam sobre suas comidas. “Eu mirei no coração do público”, ele declarou, “e por acidente eu atingi o estômago”.

“A selva”, e a campanha que Sinclair fez depois de sua publicação, levou diretamente a passagem de uma lei de limite federal de segurança de alimentos, que completou 100 anos essa semana. Sinclair acordou a nação não somente para os perigos do suprimento de alimentos, mas para o papel central do governo em mantê-lo seguro. Mas os envenenamentos dos comedores de espinafre e clientes do Taco Bell recentemente tornaram claro, a batalha está longe de acabar – e nos últimos anos, nós estamos indo para a direção errada.

Quando “A selva” foi publicada, a reação pública foi instantânea. Leitores indignados inundaram o presidente Theodore Roosevelt com cartas. Roosevelt era ambivalente, mas ele convidou Sinclair para almoçar na Casa Branca, e prometeu mandar seu encarregado da força de trabalho e assistente da Secretária do Tesouro para Chicago para investigar.

Sinclair foi para um hotel em Nova York e começou uma campanha publicitária. Ele escreveu artigos com títulos como “Campanha contra os envenenadores de atacado da comida da nação”, e lançou mais detalhes de revirar o estômago. Armour fez seus presuntos conservados, ele anunciou, pegando pedaços de bife defumado, “mofado e cheio de vermes”, e incrementando-os com restos de presunto. Em uma carta do jornal para o editor, ele desafiou J. Ogden Armour, o magnata dos frigoríficos, a processar por difamação.

Sinclair suspeitou que o time de Roosevelt faria uma ocultação. Mas seu relatório reforçou as alegações do “A selva”. Incluía uma exibição das imagens de Sinclair, como trabalhadores usando o toalete sem sabonete ou papel higiênico e retornando “diretamente desses lugares para mergulhar suas mãos não lavadas na carne”. A indignação pública continuou a crescer, e o momento para a reforma se tornou impossível de parar.
Como resultado da cruzada de Sinclair, o congresso passou o Ato de Comidas e Drogas, que foi efetivamente bloqueado pela indústria, e a nova lei montou um sistema de inspeções federais. Comida tinha que ser rotulada, e era ilegal adulterar seu conteúdo. Leis futuras expandiriam nessa nova e declarada responsabilidade governamental para garantir a segurança da oferta de alimentos da nação.

Nos últimos anos, o momento mudou. Desde a era Reagan, conservadores tentaram transformar a “regulação governamental” em um epíteto. Livros como “A morte do senso comum”, um campeão de vendas de 1990, alterou os fatos para argumentar que leis como a regulamentação requerendo que restaurantes lavem os pratos de uma maneira que mate a salmonela, são, de alguma maneira, uma violação da liberdade.

Segurança de alimentos foi particularmente atingida por esse clima anti-regulatório. Bactérias nocivas são extremas em instalações de frigoríficos e em campos de produção, mas a vigilância do governo está se desgastando. A administração Bush reduziu o número de inspetores da Administração de Comida e Droga, e instalou um ex-lobista da indústria de gado como o chefe do Departamento de Agricultura. Mas esse é um diferente momento promissor para a segurança de alimentos. Ampla atenção da mídia foi dada para a contaminação de espinafre do último outono, que matou três e prejudicou mais de 200 em 26 estados, e para a intoxicação da comida do Taco Bell, que deixou dúzias de pessoas doentes.

E democratas adquiriram novamente o Congresso, que deve ter audiências para chegar ao fim desses recentes desastres de comida e de explorar quais deverão ser os próximos. Isso deverá dar maiores orçamentos para inspeções de alimentos e, como as leis patrocinadas pelos democratas pedem, criar uma única agência federal responsável por segurança de alimentos.
As poderosas indústrias de carne e produção podem contar em chamar seus aliados no Congresso e na Casa Branca para ajudar a resistir. Isso não seria surpresa para Sinclair, que já reclamava em 1906 que Armour & Co. contribuiu com US$ 50.00 para o partido republicano, e que as indústrias de carne contrataram um oficial proeminente do governo “como conselheiro confidencial para problemas de inspeção federal”.
A resposta, acreditava Sinclair, era sempre a mesma: prover para a população americana a verdade de que eles precisam se proteger. “A origem de uma reforma genuína nesse assunto”, Sinclair insistiu, “é uma opinião pública esclarecida”.

Adam Cohen

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